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Marcos Cintra

The Work of Nations: Preparing Ourselves for the 21st Century Capitalism


The Work of Nations: Preparing Ourselves for the 21st Century Capitalism

ROBERT B. REICH Nova York, Alfred A. Knopf, 1991.


Muitas das profundas transformações dos últimos anos passam despercebidas. Comportamentos tradicionais estão sendo substituídos por novas formas de pensar e interpretar o funcionamento das economias modernas. Essas transformações afetam radicalmente o modo de produção das economias contemporâneas. Conceitos antigos estão sendo deslocados, embora, por inércia, ainda perdurem em circulação grande parte dos antigos paradigmas. São fenômenos que desfilam abertamente à nossa frente, sem que muitas vezes os consigamos ver, pois nosso raciocínio acha-se tolhido por referências moribundas.


Em seu último trabalho, The Work of Nations: Preparing Ourselves for the 21st Century Capitalism, publicado por Alfred A. Knopf, Nova York, 1991, Robert Reich começa a delinear um novo paradigma da produção, do valor e da distribuição no próximo século.


O professor de Harvard tenta destruir o que chama de "pensamento vestigial" e substituí-lo pelo que está simplesmente à nossa vista, embora nos pareça invisível. O autor descreve o crescente anacronismo de conceitos como nação, solidariedade e objetivos nacionais e demonstra como a globalização da produção, a crescente especialização, os modernos meios de comunicação, de troca de informações e de transporte estão tornando o mundo moderno um campo de batalha estritamente individual. Cada pessoa poderá se realizar economicamente dependendo mais de sua própria capacidade de identificar e resolver problemas estratégicos globais do que das características nacionais de seu país de origem.


As fronteiras nacionais serão apenas grandes depósitos de pessoas. As mais capazes e preparadas para se integrar no esforço global de resolução de problemas serão regiamente remuneradas e integrarão uma elite mundial globalizada, em que a nacionalidade dos indivíduos passa a ser tão sem importância quanto o número do sapato que calçam. Permanecem como fatores fixos de produção nacionais a massa de pessoas sem a adequada preparação e educação para serem incorporadas neste novo mundo que se desenha. Uma massa empobrecida e sem função econômica significativa na nova economia do próximo século.


Surge um mundo dicotômico, de crescente desigualdade; de opulência e miséria; de desintegração dos ideais nacionais e integração supranacional. Na analogia de Robert Reich, as pessoas de um mesmo país não estarão mais em um mesmo barco, como antes. Encontrar-se-ão em pequenos botes, dentro da mesma borrasca, cada qual procurando sua própria sobrevivência, à revelia do que esteja ocorrendo com os demais.

"There will be no national products or technologies, no national corporations, no national industries. There will be no longer national economies, at least as we have come to understand that concept. All that will remain rooted within national borders are the people who comprise a nation" (p. 3).
"As borders become ever more meaningless in economic terms, those citizens best positioned to thrive in the world market are tempted to slip the bonds of national allegiance, and by so doing disengage themselves from their less favored fellows" (p. 3).
"Are we still a society, even if we are no longer an economy? Are we bound together by something more than gross national product? Or has the idea of the nation-state as a collection of people sharing some responsibility for their mutual well-being become passé?" (p. 9).

Na primeira parte do livro, Robert Reich descreve a evolução do nacionalismo e como os ideais solidários de uma nação dependiam da grande corporação e da produção de massa. Patriotismo, interesse nacional, protecionismo, produção e consumo de massa, imperialismo como resposta à crise de subconsumo foram respostas internas de cada país na busca de crescimento da produção e da riqueza para seus cidadãos.

"By the 1950's, the well-being of individual citizens, the prosperity of the nation, and the success of the nation's core corporations seemed inextricably connected" (p. 43). Estavam todos no mesmo barco, working class e business class.

Na segunda parte, intitulada "From High Volume to High Value", Robert Reich descreve as características evolutivas das grandes empresas na atualidade. Deixaram de ser estruturas com enormes valores imobilizados e produzindo em larga escala. Transformaram-se em fachadas organizacionais, sem nacionalidade definida, ainda que com sede em algum país específico, mas produzindo de forma descentralizada em todo o mundo, pesquisando e atuando de forma difusa e crescentemente terceirizada.


A produção em massa de produtos tradicionais migrou para as economias do Terceiro Mundo. As empresas modernas exigem de seus funcionários e colaboradores três tipos de habilidades: resolução de problemas complexos, capacidade de atender a demandas específicas (customized production) e a articulação para ligar aqueles que identificam problemas com os que podem resolvê-los.


Nas empresas de alto valor, vale a capacidade de identificar e resolver problemas, administrar, gerenciar e controlar a produção efetuada sob encomenda por terceiros. Criou-se no mundo uma enorme teia empresarial (new web of enterprise) ligando produtores em todo o planeta, organizados e liderados pelos solucionadores de problemas (problem-solvers), identificadores de problemas (problem-identifiers) e corretores estratégicos (strategic brokers). Velocidade, agilidade, informação e criatividade são os fatores de produção da nova elite das high-value enterprises.


As teias de contratos, interesses, subcontratações, participações acionárias, intercâmbios, pesquisas e distribuição são extremamente complexas e até mesmo inescrutáveis. A grande empresa está sendo substituída por milhões de pequenas empresas; a antiga dicotomia entre manufatura e serviços entra no rol dos conceitos vestigiais. Surge uma complexa rede de negócios, conectando matrizes empresariais, centros de lucros difusos, distribuidores autorizados, produtores por encomenda, franchises, fornecedores e vendedores em todo o mundo. Os contratos de trabalho são temporários, ou então por empreitada.


As grandes unidades de produção massificada tornam-se exceções dentre os grandes conglomerados supranacionais. A propriedade e o controle ficam difusos. Os produtos finais se convertem em compostos internacionais, com participação de trabalhadores de todo o mundo.


Neste novo modo de produção, desaparece o paradigma microeconômico fundamental dos rendimentos decrescentes. Pelo contrário, acentuam-se as vantagens de experiência, das externalidades da pesquisa, do modo learning by doing, da educação privilegiada das elites, da transmissão de valores culturais modernos e adaptados às high-value enterprises. As empresas tornam-se teias globais sem conexão específica com qualquer nação individualmente.

"As corporations of all nations are transformed into global webs, the important question - from the standpoint of national wealth -- is not which nation's citizens own what, but which nation's citizens learn how to do what so they are capable of adding more value to the world economy, and therefore increasing their own potential worth" (p. 137).

Na terceira parte, Reich descreve a nova estrutura funcional do trabalho, composta de atividades de rotinas de produção, dos prestadores de serviços a pessoas e dos analistas simbólicos. O autor descreve as características da nova classe de elite, os "analistas simbólicos", capazes de identificar problemas e agenciar soluções. A competitividade de um país passa a depender mais das qualidades e habilidades de seus cidadãos que dos investimentos fixos realizados no passado. Mais importante que o número de empregos é a qualidade dos empregos oferecidos.


As discrepâncias entre ricos e pobres se acentuam. A posição de cada indivíduo na escala econômica passa a depender de seu nível de educação; os trabalhadores de rotinas de produção empobrecem relativamente aos demais; os prestadores de serviço permanecem em suas posições anteriores; e os analistas simbólicos galgam os degraus da opulência.


Na quarta e última parte do livro, Robert Reich discute o significado do conceito de nação no mundo moderno que se delineia.


A solidariedade entre as diversas classes socioeconômicas de um país se desgasta. Enquanto os 80% da população de renda mais baixa dependem cada vez mais dos 20% da elite, no topo da escada econômica, os 20% de cima dependem cada vez menos dos restantes 80%. A interdependência se desfaz, e o conceito de nação perde grande parte de seu significado.


"Vanishing is a nationalism founded upon the practical necessities of economic interdependence within borders and security against foreigners outside. There is thus an opportunity for us, as for every society, to redefine who we are, why we have joined together, and what we owe each other as inhabitants of the world" (p. 315).


Robert Reich nos mostra, enfim, uma forma de produção que se desenvolve no mundo moderno. Nesse modelo, o potencial de conflitos torna-se mais intenso a partir da crescente desigualdade. Trata-se de uma perspectiva assustadora, que poderá desembocar em crescentes rivalidades e conflitos ou, então, na redefinição dos laços sociais que ligam os indivíduos de uma economia.


Reich também alerta acerca dos discursos antigos, dos "pensamentos vestigiais" que representam uma realidade ultrapassada e sem sentido no mundo moderno. No rol de conceitos ultrapassados, podem ser citados a noção do nacionalismo, do interesse nacional, dos recursos nacionais ou das vantagens da propriedade de ativos dos residentes nacionais.

A análise de Robert Reich é instigante, embora ainda deixe ampla margem de dúvidas ao nem sempre ser totalmente convincente. Trata-se, mesmo assim, de leitura importante para os formuladores de políticas públicas, para os dirigentes de empresas e, sobretudo, para educadores.


 

Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque

Fundação Getulio Vargas, São Paulo.


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