O Brasil atravessa um dos momentos mais críticos de sua história nas esferas econômica, política e ética. No entanto, esse cenário seria diferente se o governo não tivesse sido omisso no que diz respeito à condução das reformas estruturais que eram necessárias há mais de uma década no país.
O governo petista não aproveitou os anos de crescimento econômico e inflação baixa para implementar reformas fundamentais, como as reformas tributária e política. Durante esse período, quando a economia estava indo bem, era o momento ideal para avançar com mudanças essenciais para o desenvolvimento do país. No entanto, o governo pareceu priorizar os altos índices de popularidade, e nada foi feito. Ficou a impressão de que o governo acreditava que tudo seguiria bem por si só.
Entre 2003 e 2010, a economia brasileira cresceu em média 4% ao ano, a inflação permaneceu controlada, o desemprego diminuiu pela metade e o consumo das famílias continuou a sustentar a produção em níveis elevados. No âmbito das exportações, a forte demanda da China beneficiou produtos importantes da pauta brasileira, como soja e minério de ferro, contribuindo para manter a economia robusta.
A partir de 2011, a atividade econômica começou a declinar. O crescimento médio diminuiu, e este ano o PIB deve registrar uma contração de mais de 1%. A inflação acelerou, provavelmente ultrapassando os 8%, e o desemprego está em ascensão. Tanto a confiança dos consumidores quanto das empresas tem diminuído consideravelmente.
A acentuada queda na popularidade da presidente Dilma Rousseff em um curto espaço de tempo foi um golpe duro para o Partido dos Trabalhadores (PT). Grande parte desse declínio está relacionada às recentes manifestações populares, que tiveram como elemento central o repúdio à corrupção. No entanto, há uma crescente insatisfação devido ao cenário econômico desfavorável, o que resultou em índices de avaliação negativa do governo impressionantemente altos.
A governabilidade tornou-se uma questão urgente após a perda de credibilidade da presidente. Por esse motivo, observamos uma espécie de terceirização do governo, com o ministro Joaquim Levy encarregado de implementar o necessário ajuste fiscal e o vice-presidente Michel Temer assumindo a articulação política.
Se o governo tivesse realizado uma reforma política, que há quinze anos está paralisada no Congresso, com o objetivo de acabar com os políticos profissionais e desmantelar as organizações criminosas infiltradas no governo, o problema endêmico da corrupção poderia ter começado a ser combatido.
Além disso, se uma reforma tributária nos moldes do imposto único, um projeto que está parado há treze anos na Câmara dos Deputados, tivesse sido implementada, a economia estaria em melhores condições, com inflação sob controle e disciplina orçamentária.
O momento atual serve como uma dura lição. Reformas cruciais foram adiadas durante o período de bonança econômica entre 2003 e 2010, e o Partido dos Trabalhadores (PT) está agora pagando o preço pela omissão, incompetência e falta de responsabilidade na gestão dos recursos públicos. Em outras palavras, a sociedade brasileira está sofrendo as consequências de um governo sem direção e desacreditado.
Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e é autor do projeto do Imposto Único. Atualmente, é Subsecretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.