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Marcos Cintra

Os redutores não funcionam

As autoridades econômicas esperam que a inflação de outubro não mostre a mesma tendência de aceleração observada em setembro. É provável que esta expectativa se realize.


Em parte, a ofensiva dos ministros econômicos para obter dos empresários um compromisso de moderação nos reajustes de preços contribuiu para este resultado menos ruim. Ademais, a própria aceleração inflacionária de setembro reduziu o poder aquisitivo dos salários, fazendo com que o volume de demanda cedesse, como o comércio já começa a detectar.


Mas cabe indagar da viabilidade de contenção do processo hiperinflacionário nos próximos meses. A indexação dos salários irá novamente impactar a demanda agregada. Os acordos trabalhistas tentarão recuperar as perdas, como de fato vem acontecendo. A própria desaceleração da inflação em outubro permitirá alguns ganhos reais na massa salarial, que poderão incrementar a demanda logo em seguida, gerando um ciclo típico de situações altamente inflacionárias.


Quanto à eficácia dos acordos com empresários para aplicar um redutor nos aumentos de preços, a realidade já mostra o pequeno alcance dessa medida. Vários setores já praticam aumentos acima dos pactuados. O próprio governo reajusta suas tarifas de energia elétrica em desacordo com a política do redutor. Além disso, se os salários não forem adequadamente comprimidos, dificilmente os setores produtivos aceitarão esta política por mais do que um curto período.


Os fatos mostram que nada se fez para evitar que as pressões hiperinflacionárias estruturais sejam eliminadas. Apenas se evita que o pior aconteça já; apenas se posterga a crise, momentaneamente evitada com o gasto de muitas palavras do ministro da Fazenda.


Enquanto as dificuldades se acumulam, tanto o governo como os presidenciáveis pouco fazem para injetar um mínimo de otimismo na economia. A questão do endividamento, do ajuste fiscal, da privatização e muitos outros temas fundamentais para a estabilização econômica do país não são discutidos com seriedade. Todos agem como se o 15 de novembro fosse a data capaz de marcar o fim das ameaças de uma hiperinflação. Nada garante que isso ocorra. Os fatores básicos que poderão levar ao total descontrole econômico não estão sendo atacados, e assim aquela data poderá registrar um profundo agravamento da crise.


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