No olho de um furacão reina a tranquilidade e o silêncio. Mas ao redor, há pânico e destruição, que logo em seguida atingem a área de calmaria. Vive-se, no momento, situação semelhante na economia.
Após a turbulência verificada há cerca de duas semanas, quando se chegou a especular sobre tudo, o clima de tensão parece ter-se desfeito. Hoje, apesar das dificuldades típicas de uma economia em recessão, os mercados aparentam maior tranquilidade, e o governo parece ter reconquistado um mínimo de sua credibilidade perdida e de sua capacidade de iniciativa. Contudo, as bases concretas para esta reversão de expectativas não são sólidas.
O ajuste fiscal - sem o qual não haverá perspectivas de estabilidade duradoura - acha-se embasado em propostas de mudança constitucional de duvidosa eficácia, e com pouca viabilidade de aprovação no Congresso. Acha-se apoiado em um pacote tributário que eleva alíquotas de impostos, mas que não será capaz de aumentar a arrecadação. Na área externa, o governo espera que o acordo com o FMI traga mais credibilidade à sua política econômica.
São mínimas as perspectivas de que estes dois fatos alterem as expectativas dos agentes econômicos. As propostas de alteração nos impostos apresentadas pelo governo não reformam a estrutura tributária nacional, como se deseja. Ademais, um acordo com o FMI não assegura o cumprimento, nem o sucesso das políticas recomendadas.
A elevada inflação verificada em outubro introduz fortes elementos de instabilidade para os meses seguintes. Mesmo a perspectiva de que em novembro a aceleração dos aumentos de preços seja mais fraca não é garantia de que o quadro permaneça sob controle mais adiante.
Embora o desaquecimento comercial seja evidente, há que se esperar uma reativação a partir do final de novembro. Neste caso, corre-se o risco de novas acelerações da inflação, que virão acompanhadas de outros surtos especulativos no mercado paralelo do dólar. Não deve haver ilusão. O quadro permanece tão grave quanto sempre esteve.
Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, 45, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas, consultor de economia da Folha e presidente regional do PDS.