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Marcos Cintra

Moeda forte, por quanto tempo?

O fracasso da reforma constitucional não permitiu a modernização do País. O ajuste fiscal não foi realizado e persiste o déficit de caixa no governo federal; o sistema previdenciário não foi reformulado e o sistema tributário não foi reconstruído; permanecem intocados os cartórios públicos e privados, e a economia não foi aberta aos capitais externos. Portanto, nada mudou na economia brasileira. Apenas aplicou-se o recurso da URV para quebrar a inércia inflacionária.


Na transição entre as duas moedas, registrou-se um inesperado processo inflacionário. Em junho, a cesta básica subiu mais de 60%, contra 45% da evolução da URV. A repentina elevação de preços será reforçada pelos efeitos estatísticos dos métodos de cálculo dos índices de custo de vida, que deixaram de fora a inflação dos últimos dez dias de junho. Resultará em inflação residual, expressiva, nos primeiros meses de vida da nova moeda.


Os agentes econômicos tornaram-se pouco tolerantes com as perdas inflacionárias. Com a inflação em reais em torno de 5% ao mês, logo haverá um amplo movimento em favor da reindexação de salários e câmbio, dando um novo impulso a um processo de reinflação.


A política monetária ficou mais subordinada ao Executivo, com a vedação da participação do setor privado no Conselho Monetário Nacional. A pressão sobre o Tesouro, em período eleitoral, será enorme. Some-se a isso a natural descrença quanto à eficácia da âncora monetária. Outros planos de estabilização tentaram a paridade fixa entre a moeda brasileira e o dólar, mas fracassaram. Com o real será diferente?


Como se vê, vários fatores conspiram para desfazer o sonho de um real forte e estável.


Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque é doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), vereador da Cidade de São Paulo pelo PL e professor titular da Faculdade Getúlio Vargas (FGV). Foi secretário de Planejamento e de Privatização e Parceria do Município de São Paulo (administração Paulo Maluf).


Jornal A Cidade de São Paulo.

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