Aos poucos, a estratégia de estabilização da atual equipe econômica vai se delineando com maior clareza. O receituário é ortodoxo, sem choques: contenção dos níveis de demanda agregada mediante a redução dos gastos públicos federais; altas taxas de juros reais; renegociação da dívida externa e procura de fontes de financiamento em divisas; e busca de recuperação das receitas públicas.
As atuais autoridades econômicas passaram por um teste fundamental, na medida em que resistiram à tentação de congelamentos e de novos confisco. Desta forma, adquiriram um precioso capital de credibilidade junto aos agentes econômicos.
Ao mesmo tempo, a determinação do governo no encaminhamento de seus projetos de reformas estruturais, ainda que parciais, está rompendo importantes barreiras de resistência, como é o caso do programa de privatização, da abertura da economia, do fim das reservas de mercado.
Nota-se, portanto, que às cabeçadas, mas com pertinácia, o governo Collor vai impondo as condições necessárias para uma futura estabilização. Contudo, dá andamento a seus projetos de maneira desastrada e com grande incompetência. Houvesse articulado seus projetos com um mínimo de consistência política e econômica, é provável que as expectativas já teriam sido revertidas, e o país estaria no caminho da estabilidade.
Hoje, a incerteza ainda domina. Os custos sociais da política econômica do governo estão sendo desnecessariamente elevados. A recessão poderia ter sido mais curta e menos profunda, não houvessem sido cometidos os erros recentemente presenciados.
A política econômica guarda traços essencialmente conjunturais, de curto prazo. Com taxas de inflação ao redor de 30% mensais, qualquer acidente de percurso pode facilmente descambar para uma crise hiperinflacionária. Por exemplo, um repique de demanda neste final de ano, em um cenário de estoques praticamente inexistentes, poderia dar início a um novo surto de aceleração inflacionária.
Infelizmente, não há garantias de que a atual política econômica será exitosa. O grande problema é saber se o país aguentará a longa travessia rumo à estabilidade de preços. Ademais, ainda há muito por fazer antes que as medidas adotadas pelo governo sejam vistas como uma efetiva mudança no regime fiscal e monetário brasileiro.
Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, 45, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, consultor de economia da Folha e presidente regional do PDS.