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Marcos Cintra

Desaforo dos tetras

Não é sábio o governante que exige de seus governados aquilo que eles não podem cumprir. Esta administração instituiu o terrorismo fiscal. O ex-secretário da Receita, apesar de nada ter feito para mudar o sistema, agora reconhece que ele está podre, que apenas o pobre paga impostos. Optou pelo papel de implacável coletor de impostos. Ao revistar a bagagem dos futebolistas, procurou armar uma exibição espetaculosa de suas qualidades pessoais. No final, acabou prestando um serviço ao país, fazendo emergir algumas questões que precisam mudar urgentemente.


Para detonar o desonroso episódio da bagagem dos tetracampeões, concorreram três ingredientes: um grupo de atletas e cartolas sem estrutura psicológica para assimilar a fama e a glória conquistada, um burocrata bem-intencionado, mas de cunho autoritário e exibicionista; e um sistema tributário irracional, que induz à evasão, sonegação e corrupção fiscais. Misturados no desembarque da seleção, formaram uma combinação explosiva, em face da qual as mais altas autoridades da República determinaram que se cumprisse a Constituição, mostrando que, embora ela assegure que todos são iguais perante a lei, alguns cidadãos são mais iguais do que outros. Envolveu a todos os indivíduos na ultrajante impressão de terem sido passados para trás na fila por uma "otoridade", sob o beneplácito do burocrata em serviço.


Frente à jactância de nossos novos-ricos, à arrogância de nossos políticos, por que os campeões seriam diferentes? Sucumbiram ao ranço cultural que ataca as pessoas de sucesso no país e passaram a se julgar superiores. Agora, é preciso que todos os responsáveis por essa afronta - inclusive o presidente da República, o ministro da Fazenda e o ex-secretário da Receita, que não observou a lei, mesmo que por ordem superior - sejam punidos.


Não se trata apenas de recuperar os valores evadidos. Afinal, como diz o deputado Flávio Rocha, a evasão tributária no Brasil tem a dimensão "horária" de toda uma vida de corrupção do anão João Alves. Trata-se de resguardar a honra dos cidadãos de respeito.


MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 48, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), é vereador da cidade de São Paulo pelo PL e professor titular da FGV. Foi secretário do Planejamento e de Privatização e parceria do município de São Paulo na Administração Paulo Maluf.


Publicado no Jornal dos Empresários.

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