Aclamado como futuro candidato, FHC sentirá na pele os efeitos de uma química explosiva.
Ser saudado e festejado como um herói da reconstrução econômica é uma coisa; outra bem diferente é realizar a tarefa e evitar o desgaste acachapante de mais uma frustração nacional.
Fernando Henrique Cardoso não carece das qualidades pessoais exigidas de um bom político. Também possui todas as condições para reunir ao seu redor uma equipe de bons economistas.
Mas, infelizmente, circunstâncias tangíveis e intangíveis conspiram contra a tão desejada estabilidade econômica.
O fato contrário mais palpável é a esquizofrenia do governo no tocante à política econômica. Enquanto o presidente da República fala em retomada do crescimento, em baixa de juros e em incremento nos gastos sociais, a equipe econômica aponta corretamente a necessidade de um forte ajuste fiscal, de uma política monetária restritiva e de contenção de despesas.
Enquanto o próprio ministro Fernando Henrique fala em acelerar o programa de privatizações, o presidente da República esvazia os leilões ao exigir uma parcela de 30% em cruzeiros nas ofertas de compras das empresas estatais.
Também a atmosfera política dificultará a performance de Fernando Henrique Cardoso. Aclamado como futuro candidato presidencial, o ministro sofrerá na carne os efeitos da química explosiva gerada pela combinação de austeridade com o calendário eleitoral que se aproxima.
Decisões imediatas terão de ser tomadas. Por exemplo, alimentar a forte retomada da atividade econômica dos últimos meses ou abortá-la imediatamente para conter a aceleração inflacionária que a acompanha? Outro caso concreto: o que fazer com o IPMF? Os economistas do PSDB são contra, mas o ministro declarou-se favorável.
Em encruzilhadas desse tipo, a dinâmica decisória do PSDB aponta para um futuro preocupante. Em crises de magnitude como a que o país vivencia, as ideologias políticas híbridas, como a social-democracia, vacilam perigosamente. Embora muitas vezes ousadas nas ideias, revelam-se titubeantes nas ações. Preferem as soluções gradualistas, como já declarou o ministro, embora tudo indique a urgente necessidade de um tratamento cirúrgico.
A economia brasileira necessita de um choque estrutural. Não se trata dos antigos congelamentos de preços e salários nem das ingênuas prefixações negociadas. Para estabilizar a moeda e cessar a lenta agonia recessiva, há que haver reformas capazes de mudar abruptamente o regime fiscal e monetário.
Três ações imediatas pavimentariam este caminho: 1) radical e acelerada privatização, sem poupar Petrobras, Telebras, Vale, Cesp, Sabesp, Eletropaulo, etc.; 2) imediata autonomia da autoridade monetária acompanhada da privatização dos bancos estatais, inclusive do Banco do Brasil e das caixas econômicas; e 3) uma completa reforma tributária com a indispensável simplificação e enxugamento do sistema.
Como não acredito, pelas razões alinhavadas acima, que o ministro da Fazenda e sua equipe adotem a curto prazo este caminho, também não posso acreditar que logrem sucesso na estabilização e na reforma do crescimento.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 47 anos, é secretário do Planejamento e de Privatização do município de São Paulo; doutor em economia pela Universidade de Harvard (EUA) e professor titular da Fundação Getulio Vargas (SP).