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Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Por enquanto, tudo bem


Não se pode reclamar de 95. Mas as preocupações com 96 aumentaram. O IGP-M da FGV registrou a menor inflação em 40 anos: 15,25%.

Os rendimentos reais do trabalho mantiveram-se quase constantes, assim como os preços dos bens de salário, como a cesta básica. É a primeira vez que o assalariado não paga a conta sozinho.

A economia iniciou o ano crescendo a taxas insustentáveis de mais de 10%. O governo puxou o breque. Mas encerra-se o ano com um crescimento de 4,1%, segundo o IBGE.

A taxa de investimentos alcançou 22,5% em 1995. Baixa em relação aos anos 70 (até 27% ao ano). Mas é uma recuperação importante.

Portanto, o ano que finda marcou importantes passos na consolidação do Plano Real.

Mas a política econômica do Real encerra contradições que nos fazem temer pelo futuro.

Há tensões no sistema de preços. Existem correções a serem feitas nas tarifas públicas.

Os juros estão desequilibrados. Altos, acarretam problemas fiscais para o governo, o maior devedor da economia.

Os juros altos aumentam a poupança privada interna, mas impedem a formação da poupança pública. A expansão da taxa de investimentos deveu-se quase apenas à poupança externa, que saltou de 0,3% do PIB em 1994 para 2,5% em 1995. Teme-se pela continuidade dos fluxos de poupança no futuro.

A política de juros altos afeta a cambial. A taxa de câmbio é usada como instrumento punitivo de contenção dos preços internos. Câmbio baixo desequilibra a balança de pagamentos, desestimula a produção interna e exporta empregos.

O crescimento do PIB é irregular. Não deve chegar a 2% no início de 96. Volta-se à dinâmica estagnacionista.

A economia parece viver a situação do homem que se jogou do décimo andar e que, ao passar por amigos do quinto andar, diz que está tudo bem. A rede que poderá salvar o suicida é o ajuste fiscal, com as reformas tributária, administrativa e previdenciária. São as únicas esperanças de manutenção dos bons resultados de 1995.

Mas o governo tem que agir rápido. O suicida já está passando pelo quarto andar.

 

Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA).

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