O governo vive seu pior momento -intrigas, escândalos e armações desgastam-no, provocam baixas de auxiliares e desviam o foco das atenções do Congresso Nacional de sua extensa pauta de trabalhos.
Primeiro, o grampo telefônico que levou à crise do Sivam. Tudo indica que o megaprojeto, desde seu início, mexeu com variados interesses, dentro e fora do país.
Seguiu-se o episódio da "pasta cor-de-rosa", no bojo da reestruturação do sistema financeiro. O fato foi transformado em nova crise política, com suspeitas de vazamento proposital de informações, o que, tudo indica, atingiu seu objetivo.
Agora, surgiu o reajuste salarial de 25% para os funcionários do Banco do Brasil, decidido pelo TST, contra medida provisória que obriga reposição de somente 20,94% -o IPC-r acumulado até junho. Teme-se que reacenda reivindicações pela volta da reindexação salarial.
A verdade é que essa sucessão de eventos e seus reflexos travaram as ações do governo e o trâmite de suas propostas de reformas constitucionais.
A reforma administrativa do setor público não deve frutificar tão cedo. A reforma tributária virou pacote de fim de ano.
A reforma da Previdência avivou os mesmos focos de atritos da primeira investida, com o agravante de sérios desentendimentos entre negociadores do governo e parlamentares envolvidos no exame da matéria. Sua apreciação no Congresso já foi jogada para o próximo ano.
As privatizações pouco avançaram neste governo.
Enquanto isso, as finanças públicas acusam déficits estruturais crescentes. O rombo orçamentário esperado para 1996 é de R$ 18 bilhões. Seria maior sem as mudanças no Imposto de Renda e a aprovação do FEF (ex-FSE).
A perdurar o desequilíbrio das finanças públicas, a estabilidade do Plano Real continua ameaçada. A saída é vencer o desafio de saneá-las e a esperança é a convocação extraordinária do Congresso. Seu desempenho, contudo, dependerá da superação das crises políticas que emperram a iniciativa do governo e o trabalho dos parlamentares.
Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA).