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Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

A hora da onça beber água


A parte mais fácil na política de estabilização é fazer a inflação cair dos milhares para as dezenas. Já fizemos isto.

O controle da inflação sempre implicou forte expansão da atividade econômica, ganhos de salários reais, aumento na arrecadação tributária e maiores lucros até para os rentistas e o sistema financeiro.

Dar a paulada inicial na inflação é fácil. Todos ganham, o que mostra que a inflação é um jogo de soma negativo.

Mas tudo se complica quando se busca consolidar um patamar baixo, como menos de 5% ao ano, sem que os fundamentos de uma economia estável tenham sido construídos.

Segundo dados da Fiesp, nos últimos 12 meses a massa de salários reais aumentou 9,2%; o salário real médio, 11,6%; e as vendas, 23%. Porém, o total de horas trabalhadas caiu 1,3%; pessoal ocupado, 1,8%; e a utilização da capacidade instalada acha-se próxima dos 80%.

A economia aumenta a demanda e a produção, mas não amplia seus investimentos, a taxa de emprego e a capacidade instalada. O setor industrial aproveita-se da situação conjuntural favorável, mas não confia na estabilidade para investir na formação de capital.

Frente a isto, não resta alternativa ao governo senão conter a demanda agregada.

Mas o drama é que a política monetária continua passiva, a política fiscal mostra-se expansionista e os erros da política cambial foram flagrantes.

Para administrar a demanda, sobram apenas os controles de crédito, os juros altos e as restrições administrativas. São instrumentos de eficácia imediata e que acabam agravando os problemas de longo prazo. Aumentam custos financeiros, o serviço da dívida pública, desestimulam os investimentos e concentram renda.

A solução está nas reformas estruturais. O governo está olhando apenas para as árvores e perde de vista a floresta.

Sem as reformas tributária e administrativa e uma radical política de privatizações continuaremos na montanha-russa de sempre. Altos e baixos.

Falta acoplar ao Plano Real projeto de desenvolvimento.

 

Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA).

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