As razões para privatizar empresas públicas variam de país para país. Mas, na essência, são as mesmas: reduzir o papel do Estado, controlar os crescentes déficits públicos e aumentar a eficiência. A França privatiza 21 empresas importantes, incluindo algumas que causam orgulho, como a Renault, a Air France e o grupo Rhône-Poulenc, que inclui a Rhodia. Os russos entregaram à iniciativa privada, através da International Finance Corporation (o braço de negócios do Banco Mundial), a sua mais conhecida indústria de tratores, a Vladimir. Os poloneses privatizam mais de 600 estatais, contando com o apoio dos parlamentares da Aliança Democrática da Esquerda (SLD), formada pelos remanescentes do regime comunista. Até a Nicarágua busca soluções de primeiro mundo, como a privatização.
Em São Paulo, o prefeito Paulo Maluf promove um vitorioso programa de desestatização. A CMTC, com 27 mil funcionários e um prejuízo anual de US$ 500 milhões, já começa a ser transferida para a iniciativa privada. Trata-se provavelmente da maior privatização já efetuada no Brasil, pondo fim a uma absurda ineficiência causada por privilégios acumulados nas costas dos contribuintes.
Vale comparar o déficit da CMTC com os gastos da rede municipal de ensino, que atende mais de 700 mil crianças, no montante de US$ 300 milhões; com a rede de saúde, que custa US$ 350 milhões; a rede de creches e centros de atendimento à pobreza, com US$ 100 milhões; com a secretaria do Abastecimento, com US$ 70 milhões.
No Brasil, como sempre, enfrentamos a defesa dos interesses políticos e corporativistas, em vez da preocupação técnica com as necessidades da população. Eficiência é resultado de competitividade. A privatização da CMTC trará concreta melhoria na qualidade dos transportes na cidade e proporcionará recursos substanciais para a realização de novos programas sociais. Essa é a única maneira que conhecemos, na equipe de Paulo Maluf, para fazer política.
Marcos Cintra C. de Albuquerque é doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), professor da Fundação Getulio Vargas, vereador e secretário do Planejamento e da Privatização de São Paulo.
Publicado no Jornal Folha da Tarde no dia 16 de agosto de 1993 e no Jornal Gazeta de Moema no dia 4 de setembro de 1993.