Neste artigo, concluo a resenha do livro de Robert Reich, "The Work of Nations", desenvolvida nas duas semanas anteriores, que discutiu a organização da sociedade capitalista no próximo século.
Reich descreve em seu trabalho a nova estrutura funcional do trabalho, composta por atividades de rotina de produção, prestadores de serviços pessoais e analistas simbólicos.
Os "analistas simbólicos" serão a nova elite econômica, capaz de identificar problemas e encontrar soluções. A competitividade de um país passa a depender mais das qualidades e habilidades de seus cidadãos do que de seus investimentos fixos. Mais importante do que a quantidade de empregos será a qualidade deles.
As discrepâncias entre ricos e pobres se acentuarão. A posição de cada indivíduo na escala econômica passa a depender de seu nível de educação. Os trabalhadores de rotina de produção empobrecem relativamente aos demais, os prestadores de serviços mantêm suas posições anteriores, e os analistas simbólicos ascendem na escala de opulência.
Reich também discute o significado do conceito de nação no mundo moderno que se delineia. A solidariedade entre as diversas classes socioeconômicas de um país se desgasta. Enquanto os 80% da população de renda mais baixa dependem cada vez mais dos 20% da elite no topo da escala econômica, os 20% superiores dependem cada vez menos dos outros 80%. A interdependência se desfaz, e o conceito de nação perde grande parte de seu significado.
Robert Reich nos mostra, enfim, uma nova forma de produção que se desenvolve no mundo moderno. Nesse modelo, o potencial de conflitos torna-se mais intenso devido à crescente desigualdade. Trata-se de uma perspectiva assustadora que poderá desembocar em fortes rivalidades e conflitos ou na redefinição dos laços sociais que ligam os indivíduos em uma economia.
Reich também nos alerta sobre os discursos antigos e os "pensamentos vestigiais" que representam uma realidade ultrapassada e sem sentido no mundo moderno. No rol de conceitos ultrapassados, podem ser citados a noção de nacionalismo, interesse nacional, recursos nacionais ou vantagens da propriedade de ativos dos residentes nacionais.
A análise de Robert Reich é instigante, embora ainda deixe ampla margem para dúvidas, pois nem sempre é totalmente convincente. Mesmo assim, é uma leitura importante para formuladores de políticas públicas, líderes empresariais e, sobretudo, educadores.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 45 anos, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas, consultor de economia da Folha e presidente regional do PDS.